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terça-feira, 18 de outubro de 2011

55º Lugar - A FILHA DE RYAN (Ryan's Daughter) Inglaterra, 1970



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

55º Lugar - A FILHA DE RYAN (Ryan’s Daughter) Inglaterra, 1970 – Direção de David Lean – Elenco: Robert Mitchum, Trevor Howard, Sarah Miles, Christopher Jones, John Mills, Leo McKern, Barry Foster, Arthur O’Sullivan – 206 minutos.

Depois dos sucessos de A PONTE DO RIO KWAI (1957); LAWRENCE DA ARÁBIA (1962) e DOUTOR JIVAGO (1965), David Lean pensou em filmar a vida de Gandhi, mas desistiu do projeto, pedindo um roteiro a seu roteirista habitual Robert Bolt. Inspirado em “Madame Bovary”, de Flaubert, Bolt cria então A FILHA DE RYAN, um drama de costumes que se passa durante a Guerra Civil na Irlanda em 1916, estrelado por um elenco de primeira. Robert Mitchum é Charles Shaughnessy, o pacato professor; Sarah Miles é Rose Ryan, a filha de Ryan; Trevor Howard é o Padre Collins; John Mills é o bobo da aldeia, mas que não podia falar (brilhante interpretação que lhe valeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante); Christopher Jones é o Major Randolph Doryan, o oficial britânico pivô de um amor infiel; Leo McKern é Tom Ryan, o delator. Ao lado do diretor de fotografia Freddie Young, o cineasta construiu novamente uma série de imagens grandiosas, de plasticidades tão comoventes como em harmonia com a trama. Em 206 minutos de poesia visual, há inicialmente uma leve comédia, que apresenta os irlandeses como seres excêntricos, bem distantes do típico esnobismo britânico. Aos poucos, os personagens fluem como em um romance do Século XIX, em que o autor se concentra apenas em narrar a trama, e não comentá-la.



Em um primeiro contato, é impossível não imaginar como esse filme pode ter influenciado outro gênio do cinema: Stanley Kubrick, que cinco anos depois faria um filme sob diversos aspectos próximos a esse magnífico A FILHA DE RYAN. Há atores neste filme que iriam figurar em BARRY LYNDON (1975), assim como paisagens rupestres que notavelmente tornariam o filme de Kubrick uma overdose plástica dificilmente recriada. Assim como Kubrick, Lean tem uma forma singular de apresentar a sua história. Desde LAWRENCE DA ARÁBIA, ele compreende que os diálogos em um filme são apenas um elemento secundário, que as imagens e sons de uma narrativa devem conduzir o espectador a um terreno incerto, no entanto, dinâmico, com um certo frescor natural. Munido de uma câmera 65mm da Panavision, Freddie Young cria imagens que simbolizam o estado de espírito de seus personagens. Há vários exemplos disso em todo o filme: as nuvens ligeiras que acompanham Rose na praia; o nascimento de algumas plantas quando Rose conhece o amor; as luzes variáveis que entram em seu quarto na noite de núpcias, etc. Mesmo com todo esse rigor visual, Freddie Young ainda reserva ao espectador uma seqüência mágica, de forte impacto emocional e cinematográfico: a cena da tempestade. Não se sabe ao certo como ele conseguiu extrair tanta autenticidade nessa seqüência, pois o que se vê no filme é um furor da natureza tentando irromper sobre os homens, algo que não pode ser criado artificialmente de forma alguma. Young capta em sua lente uma força natural, tão própria ao mundo como a paixão que envolve os personagens.



Diante de uma praia isolada, com maré altíssima, os poucos habitantes daquele vilarejo ajudam soldados refugiados a encontrar um armamento alemão que se dispersou pelo mar. O impacto visual e emotivo dessa seqüência é tão grandioso que por si só ela já resume o que é o cinema - o momento mágico em que um filme desvela o que é a vida, em que uma câmera capta, mesmo que de forma fragmentada, todas as pulsações orgânicas, metafísicas e dramáticas que podem haver na trajetória de um homem. Com um final trágico, mas com a belíssima trilha sonora de Maurice Jarre, David Lean reduz o espectador a um mero sobrevivente, a uma sensibilidade convalescente quando um grande contador de histórias está se aproximando de seu grande final.

A FILHA DE RYAN é um marco na carreira de Lean e do cinema nos anos 1970. Para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de assistí-lo, é uma rara chance de se ter contato com um filme tão belo quanto o cinema de David Lean. Foi lançado em DVD. É um desses filmes imperdíveis que o cinema realizou com paixão, esmero e qualidade. TÃO GRANDIOSO QUANTO A VIDA!!

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