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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

20º Lugar - A TRILOGIA DAS CORES (Trois Couleurs: Bleu, Blanc, Rouge) Polônia, França, Suiça, 1993/1994



OS 100 MELHORES FILMES DE TODOS OS TEMPOS!!

20ª Lugar - TRILOGIA DAS CORES (Trois Couleurs: Bleu, Blanc, Rouge) – França/Polônia/Suiça, 1993/1994 - Direção Krzysztof Kieslowski - “A Trilogia das Cores” nasceu por dois motivos: o bicentenário da Revolução Francesa e o momento político europeu atual - a comemoração da unificação da Europa, a já conhecida União Européia.

A LIBERDADE É AZUL (Trois Couleurs: Bleu) França/Polônia/Suíça, 1993 – Direção de Krzysztof Kieslowski – elenco: Juliette Binoche, Benoít Régent, Floente Pernel, Charlotte Very, Hugues Quester, Philippe Volter, Héléne Vincent, Claude Duneton, Julie Delpy – 97 minutos.

O filme vai fundo em suas idéias, vai aos poucos e com lentidão mostrando um retrato de uma vida comum, alterada por uma tragédia. Um marco importante realizado através de detalhes estéticos é a utilização da música de Zbigniew Preisner, um colaborador constante. Cabe aqui uma informação importante: o marido de Julie era um maestro famoso e compunha uma sinfonia para ser executada na cerimônia de unificação da Europa, trabalho que fica incompleto porque a mulher decide destruir as partituras. Mas o trecho mais emocionante da sinfonia fica gravado na cabeça dela, e é executado todas as vezes em que as memórias da família afloram; nesses momentos, a tela fica negra, como se a personagem sofresse um blackout emocional. Ou talvez Kieslowski quisesse preservar a intimidade de Julie naquele momento de dor suprema. As duas soluções são válidas, e muito bonitas. A LIBERDADE É AZUL é mais triste e doloroso do que outros filmes do cineasta. É verdade que a obra de Kieslowski está impregnada de um sentimento perene de melancolia, mas nesse filme existe dor, e ela é contundente. Outra característica do diretor, contudo, foi inteiramente preservada: é impossível antecipar os rumos da trama. Em sua nova vida, Julie vai ter que reaprender a usar os sentidos, bem como descongelar os sentimentos, mas isso ocorre paulatinamente, e de maneiras completamente inesperadas. Perceba, no entanto, a sutileza e a inteligência de Kieslowski ao mostrar o relacionamento (frio, porém fundamental) entre Julie e a mãe, que está internada em um asilo. A velhinha nem sequer reconhece a filha, mas passa os dias assistindo a vídeos de gente de meia idade praticando esportes radicais, como bungee jumping. A mãe de Julie nem sabe, mas celebra a vida de uma forma que a filha não consegue. É interessante notar, portanto, que embora jamais converse com ela sobre isso – na verdade, não conversa com ninguém sobre assuntos pessoais –, são os poucos momentos com a mãe que insinuam a Julie uma mudança de comportamento. Para os cinéfilos mais apressadinhos, que podem não ver muito sentido na trajetória errática da protagonista, a dica é ter um pouco de paciência e assistir ao filme até os créditos. Somente no final toda a trajetória de Julie vai fazer sentido. Aliás, quando o filme acaba – de uma maneira surpreendente, apenas para confirmar a regra de imprevisibilidade dos filmes do diretor –, dá até para dizer que A LIBERDADE É AZUL é otimista. Dolorosamente otimista. A título de curiosidade: atente para a aparição-relâmpago do casal do filme seguinte da trilogia, A IGUALDADE É BRANCA, em uma rápida cena no tribunal. Sem dúvida alguma o melhor filme da trilogia. Juliette interpreta seu papel com uma intensidade inigualável, trazendo à tela um misto de sentimentos como ódio, descrença e desespero. A fotografia é simplesmente belíssima. A LIBERDADE É AZUL, o belo filme de Kieslowski que abre a famosa “Trilogia das Cores” tem na escolha do tema, uma ousadia quase herética do diretor. Quem mais pensaria em associar um sentimento aparentemente tão positivo e promissor, como a liberdade, a um acontecimento tão doloroso como a morte das duas pessoas que mais se ama? A abordagem do tema é, como quase todo o cinema de Kieslowski, surpreendente e inusitada, mas também intensa, delicada e sobretudo humana, muito humana. A lição que o filme nos dá – e a obra do cineasta polonês está repleta de lições – é simples e até banal, mas certamente verdadeira: o destino pode sortear as pessoas de muitas formas, inclusive com muita dor, e não há o que fazer a não ser viver cada situação que se apresenta com intensidade e honestidade.



A IGUALDADE É BRANCA (Trois Coleurs: Blanc / Trzy Colory: Bialy ) França/Polônia/Suíça, 1994 – Direção de Krzysztof Kieslowski – elenco: Julie Delpy, Zbigniew Zamachowski, Janusz Gajos, Jerzy Stuhr, Aleksander Bardini, Jerzy Trela, Jerzy Nowak, Cezary Harasimowicz, Michel Lisowski, Juliette Binoche – 89 minutos.

É o segundo filme da “Trilogia das Cores” do conceituado diretor polônes Krzysztof Kieslowski que traça um paralelo entre a cor branca da bandeira francesa e um dos ideais da revolução, a igualdade. É o único da trilogia tratado de forma humorística. O polônes Karol recebe uma intimação para comparecer ao Palácio da Justiça de Paris e surpreende-se ao saber que Dominique, sua esposa, quer o divórcio. Sem falar absolutamente uma palavra em francês, ele entra em grandes apuros e depois de muito contratempo, Karol enriquece e trama uma inusitada vingança contra sua ex-mulher, mesmo amando-a loucamente. Dessa vez, o filme apresenta um olhar irônico sobre como o vazio da vida pode ser profundamente afetado pelo amor. O cineasta polonês continua com muita inteligência a saga sobre os ideais da Revolução Francesa, representados através das cores do país. Aqui ele discute a igualdade usando a cor branca. Temos, assim como no primeiro filme da trilogia, uma pequena distribuição de personagens. A trama é 100% voltada ao protagonista e seus atos, passando a acompanhar toda a trajetória feita por ele depois de um fato importante alterado em sua vida. Kieslowski mais uma vez mostra uma capacidade imensa na composição dos argumentos do roteiro e, na direção, sua maneira em perturbar o espectador é exatamente igual à utilizada no filme anterior. É empolgante também ver os rumos que o roteiro leva à vida de Karol, onde sua volta por cima passa a ser também um grande peso em sua consciência. O final da fita é perturbador e merece ser bastante pensado. O humanismo e a sensibilidade marcante de Kieslowski continuam intactos neste filme, que merece ser conferido por suas excelentes idéias e características. O filme ganhou o Urso de Prata de Melhor Diretor, no Festival de Berlim. Um roteiro excelente, mesclado a uma fotografia brilhante – o resultado é uma obra notável!



A FRATERNIDADE É VERMELHA (Trois Couleurs: Rouge) França/Polônia/Suiça, 1994 – Direção de Krzysztof Kieslowski – elenco: Irène Jacob, Jean-Louis Trintignant, Jean-Pierre Lorit, Zbigniew Zamachowski, Teco Celio, Jean Schlegel, Frédérique Feder, Benoít Régent, Marion Stalens, Samuel Le Bihen, Julie Delpy, Juliette Binoche – 99 minutos.

Última parte da monumental "Trilogia das Cores", considerado, como os anteriores, uma grande obra-prima, e tem como tema as cores e os lemas nacionais da França: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Valentine (Irène Jacob, magnífica) é uma jovem modelo que vive em Genebra, atropela um cachorro que tem o endereço do dono na coleira. É dessa forma que ela conhece a pessoa que iria alterar o curso de sua vida: um juiz aposentado que vive espionando as conversas telefônicas de seus vizinhos. Por trás desse comportamento, esconde-se um homem que entra na intimidade das pessoas até saber o desenrolar de seus destinos. Apesar da repulsa que Valentine sente no início pela atitude do juiz, acaba se formando uma amizade. A partir daí os dois começam a se relacionar numa história de redenção, perdão e compaixão, sobre a comunicação entre os homens. Neste último filme da trilogia, personagens dos dois filmes anteriores aparecem rapidamente, tendo suas vidas afetadas pela trama central. Indicado ao Oscar em 1995 para Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Fotografia. Não se pode deixar de citar um mistério no filme. Uma trama paralela apresenta Auguste (Jean-Pierre Lorit), um estudante de Direito que se prepara para fazer um concurso de juiz. Ele está sempre no caminho de Valentine, embora os dois não se conheçam. Mais curioso ainda é que a vida de Auguste parece reviver, ponto a ponto, a história pessoal do juiz. Mas quem é ele? Algum parente? Qual a relação possível entre as duas histórias? A dica, aqui, é ter paciência e esperar o desenrolar do brilhante roteiro (escrito por Kieslowski, em parceria com o velho parceiro Krzysztof Piesiewicz), que as liga de modo alegórico e absolutamente sedutor, deixando a platéia com um sorriso mudo no rosto e sugerindo que a existência (“você só precisa ser”, diz um dos personagens da trilogia) talvez não seja uma experiência tão solitária assim, já que algumas histórias vivem se repetindo. Kieslowski parece dizer que alguma força cósmica conecta as pessoas, e nem sempre o acaso é aleatório. Uma interpretação possível para a inclusão da história de Auguste em A FRATERNIDADE É VERMELHA está associada a um outro personagem misterioso, que aparece nos três filmes da trilogia: a velhinha que tenta colocar uma garrafa vazia em um depósito de lixo (no primeiro filme, ela não consegue e a protagonista não a vê; no segundo, o personagem principal a vê, mas apenas sorri e dá de ombros; neste terceiro, Valentine finalmente a ajuda – e a velhinha consegue cumprir seu objetivo). Em Kieslowski, no entanto, é muito comum que o elemento importante de uma cena esteja inteligentemente escondido atrás de intenções menos nobres. O que chama a atenção na história da velhinha, na verdade, é que nos dois primeiros filmes ela aparece em Paris, enquanto no terceiro está em Genebra. Como? Kieslowski jamais explicou o paradoxo; preferiu deixar a interpretação para cada espectador. Pode-se intuir, portanto, que a presença simultânea da velhinha em duas cidades diferentes signifique que, para o diretor, a barreira do espaço não é importante. Nesse sentido, a semelhança entre as histórias pessoais do juiz e do estudante de Direito talvez signifique que o conceito de tempo também não tem importância em A FRATERNIDADE É VERMELHA. Ao romper as fronteiras de tempo e espaço, Kieslowski opera uma pequena mágica, e agrega à “Trilogia das Cores” um caráter metafísico incontestável. Tudo isso sem apelar para jogos intelectuais, utilizando apenas uma fluidez e uma simplicidade narrativa contagiantes. Não são muitos os diretores capazes disso. É um dos mais belos, calorosos e solidários filmes de todos os tempos!!!!!

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