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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

AS MARAVILHAS (Le Meraviglie) Itália / Suíça / Alemanha, 2014 – Direção Alice Rohrwacher – elenco: Sam Louwyck, Alba Rohrwacher, Maria Alexandra Lungu, Monica Bellucci, Sabine Timoteo, Luis Huilca, Agnese Graziani, André Hennicke, Eva Lea Pace Morrow, Maris Stella Morrow, Carlo Tamarti, Margarete Tiesel – 110 minutos

                    NADA PERMANECERÁ IGUAL AO FIM DESSE VERÃO


Povoado de elementos autobiográficos, AS MARAVILHAS, o terceiro filme da cineasta italiana, Alice Rohrwacher, é uma obra de inegável relevância, sobre a passagem da infância para a adolescência, narrado do ponto de vista essencialmente feminino. E que encontra beleza na forma simples com que consegue transformar todos esses elementos em bom cinema. Todo rodado na região onde a diretora cresceu – interior da Itália, entre a Umbria e a Toscana – e tem como protagonistas uma família “duplo sangue” (mãe italiana, pai alemão), que se sustenta da criação de abelhas e produção de mel. Aqui a infância tem um ar adocicado para as filhas mais novas, mas para a primogênita Gelsomina (interpretada com perfeição por Maria Alexandra Lungu), que vive no campo com sua numerosa família, a conversa é outra. 


Ela age e é reconhecida como a cabeça da família, aquela que coordena e é responsável por todas as tarefas que os pais delegam. A vida no campo não tem nada a ver com férias, como o pai aponta mais de uma vez. O trabalho é árduo e a ajuda é necessária, mas a menina parece sobrecarregada com obrigações e expectativas em cima dela. Muito disso, se deve à figura do pai que fala três línguas diferentes, às vezes em uma mesma sequência. Sam Louwyck interpreta o pai e passa bem o sentimento de sonhador e ao mesmo tempo tímido, mas que tem orgulho da família e de seu mel. Ele protagoniza boas cenas com Alba Rohrwacher (irmã da diretora e que faz a mãe das meninas) e Sabine Timoteo (a cunhada agregada) na clássica dinâmica de família italiana confusa e barulhenta.  A relação entre pai e filha é muito próxima, e, mesmo com arroubos de gritos e brigas, ele não consegue esconder a predileção que tem por ela com um presente inusitado. É quando Gelsomina vê uma esperança para si e sua família com a chegada de um programa de televisão que busca premiar os principais agricultores do interior. Há um toque felliniano quando entra em cena a grande diva italiana, Monica Bellucci, fazendo a fada madrinha do programa televisivo e também na personagem principal, Gelsomina – o mesmo nome da personagem de Giulieta Masina, em “A Estrada da Vida” (1954). Uma grande homenagem a Federico Fellini. É importante verificar como a cineasta impressiona com a capacidade de colocar o espectador como um acompanhante do dia-a-dia de Gelsomina. 


Ao escolher tocar a lente na jovem Maria Alexandra Lungu, a diretora explora cenas que guardam bastante proximidade com pinturas renascentistas, tal como “Moça com Brinco de Pérola”, de Vermeer. Isso condiz com o cenário cheio de afazeres que ela tem e o espaço para certo encantamento encapsulado na presilha de cabelo que ela ganha da apresentadora de televisão, que a renomada atriz Monica Bellucci faz com suavidade e leveza, possibilitando fazer referência ao “Nascimento de Vênus”, de Botticelli. A vida de Gelsomina, e de sua família, sofre uma mudança radical com a chegada do garoto alemão Martin, menino problemático que faz parte de um programa do governo de reabilitação, e que é de certa forma adotado pelo patriarca e passa a trabalhar na casa. Gelsomina e Martin desenvolvem uma relação de cumplicidade que é focada totalmente no silêncio, uma vez que o jovem praticamente não fala. O pai de Gelsomina se beneficia duplamente com a adoção de Martin, pois além de receber uma quantia por cuidar do menino, este acaba se tornando a materialização das projeções que tanto possuía para um descendente masculino.   A capacidade da cineasta de produzir um sentimento de memória, recorrendo a elementos bastante sensoriais, é o que torna a experiência desse pequeno filme bastante especial. A escolha por filmar em película, na hoje raríssima 16 milímetros, que acentua os grãos da imagem projetada na tela grande, só reforça a sensação de memória. AS MARAVILHAS é um filme simples, porém profundo e recheado de simbologias e sutilezas; e rico em imagens de beleza naturalista. Foi premiado com o Grande Prêmio do Júri em 2014 no Festival de Cannes. 


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