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quarta-feira, 31 de maio de 2017

ALEMANHA, ANO ZERO (Germania, Anno Zero) Itália/França/Alemanha, 1947 Direção Roberto Rossellini – elenco: Edmund Moeschke, Ingetraud Hinze, Franz-Otto Krüger, Ernst Pittschau, Erich, Gühne, Hans Sangen – 78 minutos.

  ROSSELLINI CONTA UMA HISTÓRIA NUA, DESARMADA DE SUBJETIVIDADE E DEVASTADORA!!!

Este clássico é uma das melhores e mais fiéis obras do Neorrealismo italiano, refletindo a Alemanha do pós-guerra através de uma criança afogada na decadência presente naquilo que a cerca. É uma das obras máximas do diretor. Um drama impactante com um dos finais mais célebres da história do cinema. Utilizando atores não profissionais, o filme conta uma história cruel e difícil, numa época em que assuntos como a miséria e a devastação provocada pelas guerras ainda não eram abordados com tanta crueza. Rossellini conta sua história, passada na Berlim do pós-guerra, ocupada pelo exército norte americano, onde um garoto procura sustentar seus irmãos e o pai doente. O cineasta não enfeita a realidade de uma nação destruída física e moralmente. Esse belíssimo filme é a última parte da chamada "trilogia da guerra", formada ainda por ROMA, CIDADE ABERTA (1945) e PAISÀ (1946). 

A força de sua obra está principalmente em Edmund, a criança a qual o filme se desenvolve ao redor. Ele é parte desse novo grupo que nasce para o mundo ao redor, assim como uma nova Alemanha morre em seu estado de podridão, para futuramente nascer de novo, contar desde o início os anos de sua nova realidade, o ano zero de transição. A criança, Edmund, é a representação perfeita da nova geração alemã. Confuso, perdido, sem ideais e amigos, vagueando pela cidade desmoronada como se não houvesse para onde ir e gerando algumas das imagens mais fortes do cinema neorrealista em seus passeios solitários pela Berlim em destroços, sendo visível o estado emocional tênue e de tímida tristeza que habita a alma do garoto. Sua família desestruturada se apoia nele e em seus trabalhos ilegalmente remunerados para que haja garantia da sobrevivência à miséria e que o dinheiro para despesas seja ganho, refletindo o peso de responsabilidades na mente ainda em fase de amadurecimento de Edmund e a esperança dos mais velhos nos novos indivíduos que vão surgindo para sustentar uma Alemanha decadente. Um filme absolutamente notável, realista e incrivelmente realizado! 
A dramaticidade não se dá pelo sensacionalismo, pela trilha sonora, pela montagem, ou por alguma situação clímax. A dramaticidade está sempre presente no retrato frio e cruel da cidade. No instinto de sobrevivência dos protagonistas. Nas locações reais de prédios, praças, casarões e ruas em ruínas. E, claramente, em seu final. Edmund, após distorcer os conselhos de Enning, decide matar o pai, livrando a família do peso de um inválido. Nos damos conta então, de que o desespero do menino é maior que tudo. Maior que o amor pelo próprio pai. Assim como as ruínas, cada personagem teve suas emoções destruídas pela guerra. Há, apenas, o caos. O caos nas ruas, nos sentimentos, nas atitudes. A frieza da dor, da ressaca de um combate ignorante, sem sentido. Edmund num momento perturbador pratica seu gesto mais devastador. Aquilo é maior do que qualquer um pode suportar. Na contramão do já imponente cinema hollywoodiano da época, o Neorrealismo italiano propõe uma nova estética, baseada na experiência da realidade. O filme acentua o projeto de desdramatização do cinema de Rossellini, que culminaria em VIAGEM À ITÁLIA cinco anos depois. Ao contrário de outros relatos sobre a infância em meio à guerra (ADEUS MENINOS, ESPERANÇA E GLÓRIA, IMPÉRIO DO SOL etc), este não versa sobre o processo de amadurecimento do protagonista, pois para o cineasta não existe esperança ou sobrevivência nesta situação limite. Um filme obrigatório, contundente e imortal!!

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