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quinta-feira, 10 de agosto de 2017

OS MENINOS QUE ENGANAVAM NAZISTAS (Un Sac de Billes) França / Canadá / República Tcheca, 2017 – Direção Christian Duguay – elenco: Dorian Le Clech, Batyste Fleurial, Patrick Bruel, Elsa Zylbersrein, Bernard Campan, Kev Adams, Christian Clavier, César Domboy, Ilian Bergala, Emile Berling, Jocelyne Desverchère, Coline Leclère, Holger Daemgen – 100 minutos

               DURANTE O PERÍODO DE OCUPAÇÃO NAZISTA NA FRANÇA...

Com um enredo encantador, é um filme sensível e modesto – prova disso é o plano aberto do trem à noite. Comovente em diversos momentos e com um enredo fascinante, é uma belíssima jornada de amadurecimento. Baseado no livro autobiográfico de Joseph Joffo lançado em 1973, “Os Meninos Que Enganavam Nazistas” (no original, Un Sac de Billes ou Um Saco de Bolinhas de Gude, brinquedo que assumirá o símbolo de resistência da criança judia) mostra a Segunda Guerra Mundial pelos olhos de dois irmãos que precisam ir de Paris até a Zona Livre da França, onde deveriam encontrar-se com seus pais e irmãos mais velhos. Dirigido por Christian Duguay, o filme traz claras referências à primeira adaptação desta história para o cinema, em 1975, mas em outros aspectos, flerta com a visão que o diretor Louis Malle trouxe para a França ocupada em “Adeus, Meninos” (1987), tendo, igualmente, a perspectiva de crianças judias sobre o conflito. O caráter de road movie bélico e a inevitável dualidade desse olhar infantil — mesmo diante do momento histórico há oportunas e excelentes cenas de humor — tornam os personagens muito cativantes e próximos de nós, de modo que é impossível não se apegar à história e não se emocionar quando os irmãos ou família sofrem e são separados mais outra vez.


Há dois eixos condutores no filme: de um lado, o afeto entre os dois irmãos e, de outro, a guerra e suas consequências. Jo e Maurice nutrem com pureza ímpar o amor fraterno: brincam e tiram sarro um do outro, mas também se protegem mutuamente no momento mais difícil de suas vidas. São crianças, agem como crianças, desconhecendo algumas expressões adultas e demonstrando bastante inocência (o caçula em especial) em diversos momentos – Jo, por exemplo, trata um desconhecido com simpatia, ignorando o período hostil. Entretanto, os dois precisam amadurecer rapidamente: é uma necessidade que a guerra trouxe. É justamente a proteção mútua que permite que amadureçam, algo que apenas uma narrativa tão rica poderia contar. Consciente, o diretor não tem a pretensão de inovar, apenas contenta-se em executar de maneira correta a transposição da saga dos Joffo para o cinema em forma de aventura infantil que substitui os perigos da natureza selvagem pelos alemães. Os nazistas, introduzidos desde o início como antagonistas, são em geral hostis – em oposição aos amigáveis fascistas italianos –, mas seus notórios atos cruéis mal chegam à tela. A opção é pela suavização e simplificadora personificação do mal num vilão caricato, oficial desconfiado e impiedoso interpretado por Holger Daemgen.
Algumas cenas são tensas e emocionantes. Quando o pai é obrigado a bater em Joseph para ele "esquecer" que é judeu, para protegê-lo, Patrick Bruel revela-se inesperadamente comovente como figura paterna. Com um roteiro bem amarrado que permite a fluidez narrativa, apesar de conter alguns momentos de superficialidade, é uma obra que prima por sua direção de arte, fotografia, montagem e figurino. O diretor sabe da força do material e não exagera no sentimentalismo – embora a trilha sonora seja quase onipresente e excessiva – e confia especialmente no olhar infantil diante das atrocidades. As lembranças são embaladas por perigosas aventuras e suspense, e por certa leveza por causa da atuação dos ótimos atores mirins. O peso da guerra e a caça aos judeus, porém, perseguem os protagonistas como um fantasma sempre à espreita. Com muita ternura e humor o registro da epopeia dos irmãos e de sua família por esse período conturbado faz uma bela reflexão sobre os horrores da guerra ao colocar a narrativa sob o olhar de uma criança. É um filme importante para termos outras visões sobre um dos momentos mais importantes da história do mundo.



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