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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A ESPERA (L’attesa) Itália / França, 2015 – Direção Piero Messina – elenco: Juliette Binoche, Lou de Laâge, Antonio Folletto (Paolo), Domenico Diele (Giorgio), Corinna Locastro, Giorgio Colangeli, Giovanni Anzaldo – 95 minutos

Um filme extravagante e rebuscadamente triste, buscando a sacralização do sofrer de suas protagonistas.


O luto é um dos processos mais revisitados no cinema que se atem ao registro do sofrimento. Falando sobre a perda em uma escala intensa e com direito a um ritual de passagem do luto instaurado, o filme é forte, denso e requer a atenção e a paciência do espectador. “A Espera” combina uma sofisticada direção junto a reflexões morais e existenciais para desembocar nesta obra lírica em seu tom dilemático amargo e tumultuosamente túrbido. O espectador é convidado pelo diretor Piero Messina, a uma viagem rumo ao universo enigmático das emoções e como as reações que tomam, ou que não conseguem tomar, nesses momentos, acarretam uma infinidade de consequências para as pessoas ao redor. Falar que Juliette Binoche é uma excelente atriz é redundante, mas nesse filme ela praticamente agracia o público com uma extraordinária atuação. Impecável e brilhante. Perdida na própria solidão, sua personagem Anna é o espelho da amargura como se não tivesse mais forças para acreditar em dias melhores. Tudo muda com a chegada de Jeanne que revitaliza nela a presença do filho distante (Giuseppe) que tanto ama. Por meio de uma mentira escancarada, a plateia é testemunha, se projeta rumo ao desabrochar de seu estado de luto sem pensar em consequências pelos seus atos.


As atrizes principais – Juliette Binoche e Lou de Laâge -, como a trama, trabalham de maneira sutil. Há muita potência nos pequenos gestos, anedotas e olhares trocados. Ritmado metodicamente, "A Espera" não se move rapidamente, mas faz o tempo voar.

Se beneficiando enormemente do seu evocativo cenário siciliano, este filme usa o espaço, o tempo e o som de uma maneira sedutora, criando uma atmosfera quase meditativa. Transformando um casarão silencioso em um palco de sombras, o roteiro escrito a quatro mãos consegue ser lentamente hábil ao não entregar tudo. A ‘jornada’ se intitula como uma imersão quase desconhecida que edifica as protagonistas como principais alicerces. Jeanne repete algumas vezes que Anna é estranha, e cada vez mais essas indefinições parecem preparar esse clima estagnado em algo de maior fricção. As atrizes dualizam com atuações enigmáticas e a química em cena é arrepiante. Por mais que parte da realidade esteja sendo omitida de Jeanne, suas dúvidas e angústias (principalmente as finais) são muito próximas. Para Anna, conviver com a dor e uma falsa felicidade parece ainda mais doloroso; seu olhar, porém, jamais deixa de ser aflito.

Aos poucos, essas duas mulheres aparentemente distintas, encontram afinidades, para além do amor por Giuseppe ou do fato de serem francesas. Há uma espécie de reconhecimento de si mesma por parte de Anna na figura impetuosa da nora, até mesmo certa admiração, como na cena em que a observa se despindo e adentrando a água. Isso faz com que a jovem se torne não só uma companhia, mas também uma confidente, para quem expõe seu passado – o divórcio, a mudança para a Itália – e seus sentimentos reprimidos. A recíproca também ocorre, ainda que sem o total conhecimento de Jeanne, nas confissões feitas em mensagens de voz deixadas no celular do namorado, que Anna ouve secretamente. O filme nos consterna por meio de dois caminhos: o primeiro gira em torno da decisão da mãe de não contar a verdade para Jeanne, já que esta carrega embates morais significantemente lacerantes, e o do desenvolvimento emocional e até mesmo da individualidade das personagens, cujas experiências recentes as quais o filme retrata levam marcas irretocáveis em seus âmagos. “A Espera” é um filme sensível e rebuscadamente triste, buscando a sacralização do sofrer de suas protagonistas.

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