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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

AO CAIR DA NOITE (It Comes at Night) EUA, 2017 – Direção Trey Edward Shults – elenco: Joel Edgerton, Christopher Abbott, Kelvin Harrison Jr., Carmen Ejogo, Riley Keough, Griffin Robert Faulkner, David Pendleton, o cão Mikey (Stanley), Mick O’Rourke, Chase Joliet – 91 minutos

UM TERROR PSICOLÓGICO ABORDA O MEDO DO COMPORTAMENTO HUMANO


Toda a narrativa deste filme é estabelecida com a sutileza de cenas ambíguas. A alusão à peste bubônica, por exemplo, se faz presente em dois momentos muito sucintos: quando um grande quadro mostrando a Humanidade medieval combatendo caveiras é mostrado por alguns segundos e quando Travis desenha uma floresta ocupada por esqueletos. Unindo essas duas passagens às profissões de Paul e Will, os dois líderes do filme, é fácil compreender o caminho que o longa trilha. Paul, o protagonista, é um ex-professor de história ao passo que Will já exerceu diversos trabalhos de “construção”, como mecânico e assistente de obras; portanto, um conhece a história da Humanidade, e outro, supostamente, pode proteger a casa e elaborar armadilhas/bugigangas/sistemas de defesa. Mesmo com todo esse preparo, porém, os personagens permanecem vulneráveis diante de um inimigo invisível. Da mesma produtora do já cult “A Bruxa, “Ao Cair da Noite) combina texto, fotografia (escura e úmida), trilha (minimalista e discreta), todos os elementos a favor da dramaturgia. E o resultado é uma atmosfera de constante apreensão e medo rural.

A estratégia do diretor é simples e eficaz: sugerir ameaças que, ainda que invisíveis, se fazem presentes e reais. Para alcançar este resultado, Shults e o diretor de fotografia Drew Daniels mantêm a câmera sempre em movimento, investindo em zooms lentos que, fechando o quadro enquanto focam algum ponto do cenário ou da locação, levam o espectador quase a espremer os olhos ao tentar enxergar o que exatamente encontra-se escondido ali – como no instante, por exemplo, em que o cachorro da família late para algo na floresta. Enquanto isso, o ótimo design de produção concebe a casa que abriga aquelas pessoas como um conjunto de espaços escuros e claustrofóbicos que insinuam perigos ocultos nas sombras – e mesmo que a porta vermelha situada ao fim de um corredor seja óbvia em sua cor e simbolismo, isto não a torna menos eficiente como recurso narrativo. O grande protagonista dessa obra tensa é o adolescente Travis, filho de  Paul (Joel Edgerton). Interpretado por Kevin Harrison Jr., Travis é um rapaz introspectivo e solitário que, dividindo o quarto com seu cão, tem o hábito de se esconder no sótão para ouvir as conversas dos pais e, posteriormente, aquelas entre Will e Kim – e quando o vemos rir de uma piada particular do casal, sua solidão se torna ainda mais tocante. Além disso, como alguém atravessando o auge de seu despertar sexual, o jovem não demora a demonstrar certo interesse por Kim, o que resulta numa conversa entre os dois na cozinha, no meio da noite, durante a qual - mesmo nada de comprometedor sendo dito - ambos percebem o subtexto que move o diálogo, sendo admirável o trabalho dos dois intérpretes, já que Harrison evoca o desconforto excitado do garoto enquanto Keough permite que Kim pareça estar se divertindo internamente com a reação do outro.


“Ao Cair da Noite” fala muito mais sobre nossos medos internos e transborda tópicos como paranoia, experimentando a forma como lidamos e convivemos sob circunstâncias extremas. O mal pode existir e estar lá fora, mas permeia todos nós, se mostrando muito mais perigoso e urgente quando é deflagrado de dentro para fora. O filme revela-se, então, muito mais do que um suspense/horror que o marketing pode sugerir, mas uma análise da fragilidade humana diante de forças muito além de nosso controle, como as da natureza. É um verdadeiro estudo de nossa espécie, capaz de mostrar como cedemos ao nosso  lado primitivo a qualquer sinal de desordem.  

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